O anel de Ferrara, também chamado de Anel Intraestromal Corneano, é uma órtese formada por dois semicírculos de espessura variada e de apenas 5 mm de diâmetro, feitos de polimetilmetacrilato (PMMA), uma espécie de acrílico rígido.
Trata-se do mesmo material utilizado na fabricação de lentes intraoculares há mais de duas décadas, sendo perfeitamente tolerado pelo organismo.
Entre as vantagens de implantação do anel de Ferrara destacam-se a rapidez da recuperação pós-cirúrgica, a ausência de possibilidade de rejeição pelo organismo e o risco mínimo de complicações.
Outra grande vantagem da cirurgia do anel de Ferrara é que se trata de um procedimento totalmente reversível, o que possibilita que os implantes possam ser retirados, trocados ou ajustados quando necessário, como nos casos em que há uma correção inadequada da visão.
Aliás, a intervenção para ajuste ou retirada do anel não causa quaisquer prejuízos para a córnea ou para a saúde do paciente.
Por fim, vale destacar que trata-se de um procedimento com alto índice de sucesso, sendo eficaz em cerca de 80% dos casos. No entanto, é importante alertar que essa não é uma cirurgia para corrigir problemas refrativos. Ou seja, mesmo após a implantação do anel de Ferrara, existe a possibilidade de que o paciente ainda precise utilizar lentes de contato ou óculos para complementar o tratamento.
O anel de Ferrara é implantado no interior da córnea, em uma camada chamada de estroma, por meio de um procedimento cirúrgico de alta precisão.
A cirurgia é simples: com auxílio de um raio laser, o oftalmologista faz uma espécie de túnel na córnea para a implantação do anel, que é posteriormente centralizado. Uma vez aplicado o implante, é colocada uma lente de contato terapêutica, que auxilia na cicatrização e recuperação da córnea. Essa lente é retirada pelo médico em cerca de sete dias após a operação.
A cirurgia do anel de Ferrara é considerada extremamente segura e eficaz. Para realizá-la, é utilizado somente um colírio anestésico, o que, além de tornar o procedimento completamente indolor, dispensa a necessidade de internação do paciente no pós-cirúrgico.
A intervenção é rápida e dura cerca de 15 minutos, sendo que o paciente permanece acordado durante todo o tempo.
No período pós-operatório, devem ser utilizados colírios antibióticos e anti-inflamatórios para evitar infecções e aumentar o conforto do paciente, uma vez que, embora raro, pode haver ocorrência de dor, vermelhidão, lacrimejamento e fotofobia (alta sensibilidade à luz). Não é necessário, porém, o uso de tampões.
No primeiro mês após a cirurgia, é preciso adotar alguns cuidados para reduzir o risco de contaminação, tais como não coçar os olhos, não tomar banhos de piscina ou mar, não frequentar saunas e evitar o uso de maquiagens. Também é recomendado não praticar atividades físicas de contato ou com bola, para não expor a região operada a possíveis traumas.
Nesse sentido, também é indicado que o paciente utilize oclusores acrílicos para dormir, evitando que coce ou toque no olho acidentalmente durante o sono. Além disso, é recomendado dormir sobre o lado oposto ao olho operado.
Cuidados adicionais com a higiene também são importantes durante a recuperação. Sendo assim, é recomendado que o paciente sempre lave as mãos antes de aplicar colírios ou lavar o rosto, por exemplo. Caso seja necessário limpar os olhos, o ideal é que a limpeza seja feita com gaze e soro fisiológico.
Como qualquer outro procedimento cirúrgico, a implantação do anel de Ferrara está sujeita a infecções e a cicatrizes na córnea. Outra potencial complicação é a extrusão (saída espontânea) do anel do olho, o que ocorre em cerca de 10% dos casos. No entanto, os riscos são mínimos quando a cirurgia é conduzida de forma adequada e quando são feitos todos os exames pré-operatórios recomendados.
Por fim, em cerca de três dias depois do procedimento, o paciente já pode retornar normalmente às suas atividades cotidianas. A recuperação completa da visão, porém, só acontece em torno de três meses. Durante esse período, é comum apresentar visão flutuante.
implantação do anel de Ferrara é indicada nos casos em que o ceratocone se encontra em franca evolução, quando há uma distorção muito acentuada da córnea, nos casos em que o paciente não tolera a utilização da lente de contato ou ainda quando a simples correção com óculos ou lentes de contato já não apresenta resultados satisfatórios – quadros que demandam uma intervenção cirúrgica.
É importante ressaltar, no entanto, que a cirurgia de anel de Ferrara não cura o ceratocone. De fato, os implantes conferem uma maior rigidez à córnea, freando a progressão da doença.
Além disso, como comentamos, esse não é um procedimento que corrige problemas refrativos. Quase metade das pessoas que fazem a cirurgia do anel de Ferrara precisam utilizar óculos ou lentes de contato após o procedimento.
Existem diferentes abordagens para o tratamento do ceratocone, desde a utilização de óculos e lentes de contato em estágios iniciais a soluções cirúrgicas, como a implantação do anel de Ferrara, o Crosslinking ou, em casos muito graves, o transplante de córnea. A escolha de cada uma delas dependerá da situação clínica de cada paciente, do nível evolução da doença e, mais importante, da indicação do médico oftalmologista.
